Você alguma vez viu como é um baile de carnaval de
adolescente? Ou de criança? Ficam alguns sentados às mesas e uma
grande roda de gente dançando no salão, e dando voltas. Certo? Quem
não quer dar voltas, fica no centro da roda dançando. Eu acho que a
vida é isso. E existem algumas atitudes que se pode tomar em relação
à ela:
Você fica na cadeira o tempo todo, durante o baile,
dizendo como cada um deveria dançar.
Você fica na cadeira, durante o baile, tentando criar
coragem para entrar na pista, com medo de não conseguir. Quando
entra, já é tarde, pois o baile está quase acabando, e você não
consegue se ambientar. Você se sente inadequado. Sente-se o tempo
todo deslocado, e, assim como os que estão na mesa, você passa a
assistir o baile de dentro do baile - um espectador inserido no
ambiente, mas sem influenciá-lo em absolutamente nada.
Você entra, mas a roda te arrasta. Você não consegue
retomar o prumo. Se deixa levar. Vai até o final do baile tentando
firmar o passo, se endireitar. Sempre que a orquestra muda para uma
marcha-rancho mais tranquila, você acredita que vai se aprumar; mas
não dá tempo. Antes que você consiga, vem de novo o sambão, e
todos começam a pular e dançar, e você se desorienta novamente. E
assim você vai, até o final do baile, sempre esperando a valsa de
que precisa para fazer a sua dança.
Você vai, do início ao final do baile, girando na
roda, sempre pelos mesmos lugares, sempre vendo as mesmas coisas, e
criticando aqueles das mesas que não entraram na pista, dizendo que
eles têm medo de entrar, que eles estão perdendo. Mas você não
sabe exatamente o que eles estão perdendo. Por que a única coisa
que você sabe é girar, girar, e repetir tudo sempre igual, até que
o baile termine.
Você não fica na roda. Se mete no burburinho, no
centro da roda, e fica ali, pulando, dançando, fazendo tudo quanto é
loucura. Mas, quando menos espera, o baile acabou, e você não viu o
pessoal das mesas, nem o garçom, nem bebeu, nem comeu, e não
lembrou nem de fazer xixi. Aí, corre à fila do banheiro para ver se
dá tempo, mas é tarde demais... tenta comer ou beber algo, não dá
mais tempo. Dançou pra caramba, mas não viu nada do baile. Senta e
fica olhando as pessoas irem embora e o baile acabar, com aquela
sensação de perda de algo que você não sabe bem o quê, pois
perdeu antes de ganhar.
A orquestra? A orquestra seria aquela que dita as regras
da dança: o Zeitgeist, a mídia, o padrão da época, o que está
valendo, o que está em voga, os valores...
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