terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Eu tive um sonho



“Até certa época de minha vida, me refugiei nos sonhos. Hoje, eles se refugiam em mim.”

“Qual a diferença entre viver um sonho e sonhar a vida? Nenhuma (?). Pois eu prefiro sonhar um sonho. É bem melhor sonhar, pois, se a gente tem um sonho ruim, existe a prerrogativa de acordar. Já se a vida é ruim, a única saída é dormir pra todo sempre.”

“Sonhei que eu era um computador com defeito: não conseguia reiniciar. Que coincidência, a vida também não se reinicia. Mas isso não é um defeito, logo, não tem conserto. Vou dormir.”

“Acaso as lembranças daquilo que foi sonho são menores que as lembranças daquilo que foi real? Não é tudo lembrança?... Que diferença fará sonhar, ou viver a realidade, se, quando mais precisarmos, ambas serão lembranças?... É possível que, numa certa altura de nossas vidas, as lembranças dos sonhos sejam mais reais do que aquelas daquilo que um dia chamamos realidade, pois os sonhos são a nossa criação, como a nossa realidade é criação de Deus. Somos o deus de nossos sonhos, assim como Deus o é de nossa realidade. Sendo assim, nossos sonhos são tão reais para nós, quanto o somos para Deus.”

“Os sonhos não me asseguram o futuro, mas me garantem o presente. Os sonhos são uma fuga para a possibilidade do real.”

“Realidade é o script que nos cabe, no palco da vida. Fantasia é o script que sonhamos interpretar um dia, e por isso passamos a vida ensaiando-o.”

“Sonhos sem projeto são devaneios. Sonhos sem ação, delírios. Sonhos sem possibilidade, desvarios. Eis que vos fala uma sonhadora desvairada delirando em devaneios.”

sábado, 16 de fevereiro de 2013

Vida & Tempo



“Os caminhos da vida tem mão única. Você pode escolher um e trilhá-lo, mas jamais poderá voltar. No fundo, você caminha sobre o tempo. E a marcha do tempo é sempre progressiva.”

“O homem quer dar sentido à vida, nem que seja depois da vida.”
 
“Minha jovem, não torça para o tempo passar, pois você terá o resto da sua vida pra desejar que este mesmo tempo volte”.

“Até mesmo o mais devotado existencialista, que sabe que a vida não possui sentido algum, passa sua própria vida buscando dar sentido à vida. Mas ele precisará de tempo para isso. E essa relação forçosa com o tempo faz com ele mergulhe, mais ainda, na crença de que não há sentido, situando-se, então, no interminável conflito desejo x conhecimento.”

“Se tudo na vida não estivesse sob o controle do tempo, o coração, que representa a vida, não faria tic-tac.”

“Há momentos na vida da gente em que as lembranças são a companhia mais viva e real.”

            “Eu me sinto tão pequena diante do tempo, que, num segundo, posso ver a minha vida inteira.”

sábado, 9 de fevereiro de 2013

O Amigo e o Retrovisor



Mesmo sabendo que o número de passageiros em busca de condução aumentava generosamente em dias chuvosos como aquele, ele experimentava sempre um intenso distanciamento da vida nesses momentos. Tudo lhe parecia estranho. Seus movimentos e suas respostas ao mundo exterior eram acidamente autômatos. A cada braço estendido, à beira da calçada, seu estômago revirava diante da idéia de se ver obrigado a fazer um mínimo contato direto com o mundo vivente, ao menos para saber o destino da viagem. Sua vontade era circular solitário, até que a chuva, ou o seu coração, parasse - o que acontecesse primeiro. A rotina era sempre a mesma. Respondia ao cumprimento do passageiro com um meio sorriso que se confundia com um forte espasmo facial. Ouvia o endereço de destino, como um cão que escuta os lamentos de seu dono, enquando olha o trajeto das formigas no quintal. Assim que o carro entrava em movimento, se sentia seguro, graças à cumplicidade da paisagem que capturava o olhar do passageiro. Sua alma partia, então, em direção a algum lugar, que ele nunca soube bem onde era, mas que, quando voltava, trazia na boca o sabor dos séculos, e, nas costas, o peso de todas as palavras resumidas na voz do passageiro perguntando: “Quanto é?”
Teria sido tudo exatamente assim, se, naquele dia, seus olhos não tivessem passado rapidamente pelo retrovisor, antes que sua alma se retirasse para a habitual viagem. Como um soco no estômago, se vira prisioneiro da tempestade de imagens do passado que desfilavam, compondo, desde a infância, a imagem do homem que aparecia no espelho.
Sim, era ele! Seu passageiro fora, durante muitos anos, o seu maior amigo, com que viveu as primeiras perguntas, sofreu as primeiras respostas, trocou abraços, socos, sonhos, segredos, namoradas, e que agora estava ali, no banco de trás de seu táxi, olhando para a rua, com aquela expressão de antepassado.
E se, quando o sinal fechasse, ele virasse para trás, e repetisse a saudação que ambos costumavam usar, quando se encontravam? O amigo entenderia? E se não lembrasse dele? E se o achasse velho e acabado e infeliz? Decididamente, não olharia para trás, não faria a saudação, não se deixaria descobrir pelo amigo, que agora mais parecia uma foto de jornal. Seria suficiente olhá-lo dentro do campo de visão que o retrovisor permitia. Buscou na memória a cena de minutos atrás, quando o amigo acenou para o táxi, em busca de sua imagem de corpo inteiro. Mas lembrou que, naquele momento, tentava suportar as reviravoltas de seu estômago. Nada conseguiria lembrar, pois nada havia visto, a não ser a ameaça da presença de um passageiro no seu carro.
As cenas de sua infância e adolescência passeavam de mãos dadas, no pequeno espaço do retrovisor, que agora já era um imenso palco, onde uma vida de cem anos caberia.
Pelo visto, o amigo estava bem... teria casado? ... com certeza, estava em situação melhor que a de um simples motorista de táxi.... A vontade de abraçar o amigo tomava conta de seus braços. Talvez ele quisesse encontrar nesse abraço, a razão pela qual suas vidas se subtraíram pela distância, no tempo e no espaço. Ou, talvez, quisesse apenas abraçar o amigo, e dizer: “Cara! Seria isso uma chance?”. Mas o amigo não sabia daquele motorista, com quem compartilhara toda a cumplicidade que uma amizade suporta. Será que o amigo ainda sentia o medo do assobio da ventania, acreditando ser chegada do ‘buraco do mundo’, como costumava dizer a portuguesa que vendia cocadas e pipas para a criançada?
E se, na hora de pagar a viagem, o amigo o reconhecesse? Será que iriam pro “Bar do Bardo” tomar cerveja com limão, pra evitar a gripe, por terem pego um temporal, na volta de algum lugar? Ou será que iria apenas cantarolar as teimosas músicas que fizeram, durante o desejo visionário de que um dia seriam uma dupla de sucesso?
Pelos trajes, o amigo devia estar bem de vida, e talvez não tivesse olhar para as lembranças... “Há amizades que não precisam de convivência, nem contato, se preservam por si só. Há outras que sucumbem, se não houver convivência... " Qual teria sido a amizade deles? Sido? Será que não era mais? Vasculhou a memória, tentando lembrar a última vez que pensara no amigo, antes que ele entrasse no seu carro, há minutos atrás. Não conseguia lembrar, parece que o amigo sempre estivera ali, exatamente como um espelho retrovisor, que a gente nem lembra que existe, a não ser quando resolve precisar dele, e não o encontra.
Talvez fosse, aquela, a última chance de ele reencontrar o amigo que sempre estivera lá, e, se ele deixasse passar, nunca mais o reencontraria, e nunca mais ele estaria lá. Então seria melhor fazer a ‘familiar saudação’ ao amigo. Ou, melhor, ele sorriria para o amigo. Sorriria em código. O amigo, com certeza, reconheceria, pois sempre que precisavam se comunicar em público, sem que ninguém reparasse, usavam ‘caras e bocas’ que tinham, todas, significado próprio.
O endereço de destino estava chegando, seu coração parecia que ia saltar pela boca. Nesses últimos minutos, percebeu o quanto tinha envelhecido, e também o quanto se deixou envelhecer. Naquele instante, se sentia um menino pronto para pular o muro da escola e jogar bola, ou um rapaz ansioso por entrar de ‘penetra’ no baile, e dançar com a mais linda garota. Um desfile, cada vez mais rápido, de cenas da sua vida com seu amigo passageiro - passava por sua mente. Chegou a ouvir sons, sentir cheiros, sabores e texturas. Tudo, de uma vez só, se precipitava naquele momento. Despertou com a voz do amigo: - “É logo ali na frente. O prédio azul”.
Ele tinha ainda a mesma voz. E, com certeza, era muito rico (a valer pelo prédio). Talvez, não valesse a pena segurar essa chance. Talvez, não fosse uma chance.
– “Quanto é? “. Olhou para trás. Pegou o dinheiro. – “Pode ficar com o troco”.
Ele também estava bem marcado pelo tempo... Não era o mesmo do retrovisor... Talvez, não fosse tão feliz assim... Talvez, não tivesse filhos...
Despertou para o mundo do nada, com o som da porta batendo. E seguiu em círculos, à espera do que parasse primeiro. A chuva, ou seu coração.
No quarto do zelador do grande prédio azul:
-         Nossa, meu filho, que dia de merda! Tomei um banho de chuva, tive que negociar meus vales-transporte, pra poder pegar um táxi, e ainda peguei um motorista viado, que me olhou o tempo todo pelo retrovisor, e quase me agarrou, na hora em que fui pagar. Deixei o troco para ele, e me mandei.”

domingo, 3 de fevereiro de 2013

Tanto frio



“Sim, neve... Chorei pensando no Brasil; chorei pensando nos amigos; chorei pensando nas músicas; chorei sem pensar em nada...”

“Simplicidade é não precisar de algo externo pra 'ser'."

“Ali, eu não vi um palco, e, sim, uma fogueira em torno da qual, numa noite fria, todos juntos, bebemos um bom vinho e nos revezamos, deixando a emoção fluir e virar fumaça, junto com a lenha que nos aquece.”

“Abandono: todos sentem, o tempo todo, mas apenas poucos reparam, e por pouco tempo.”

“Durante todo tempo de convívio com tantas pessoas no ambiente virtual, tive a oportunidade de constatar o quanto esse universo imaterial permitiu ao Homem a promoção e demonstração de sua sensibilidade e de sua percepção pelo próprio elemento Humano. Tenho visto até o coração mais duro e aparentemente frio se quedar diante das manifestações artísticas de quaisquer naturezas. Entrega! Eis a palavra! O Homem no ambiente virtual permite-se, um pouco mais, à entrega. Não falo da entrega de um ser humano a outro, mas sim, da entrega de cada um, à sua própria emoção, ao que há de sensível dentro de si. Receber poesia, através de emails, lê-las e encaminhá-las tornou-se uma profissão de fé, em meio a esses tantos internautas que navegam, transitam, oscilam, flutuam.”

“Se, na desolação, você não consegue descobrir exatamente onde se encontra a dor, é por que a raiva ainda te cega e anestesia.”

“Na dor, todos são meus filhos.”