São
cinco os nossos sentidos físicos: visão, audição, tato, olfato e
paladar. Eles dão ao Homem a percepção do mundo em que vive. Mas
como obter a percepção de nós mesmos? Como saber quem é esse
“ser” que vê, que ouve, que toca, que cheira e que prova o mundo
exterior? Todos os nossos órgãos dos sentidos, olhos, ouvidos,
pele, nariz e boca, estão, na verdade, de costas para nós. Mas
existe um outro mecanismo, para dar ao Homem, a percepção de si, a
autoconsciência. Mas, me parece, que o Homem busca sempre se afastar
da percepção de si mesmo. Podemos reparar isso, quando fazemos
afirmações do tipo “o Homem é o único animal que...” - como
esperássemos nos comportar da mesma forma que os demais animais, nos
mais diversos aspectos ( ...que toma leite depois de adulto, ...que
se acasala, sem ser para procriação...). O Homem não pode se
comparar com os demais animais, simplesmente, porque “o Homem é o
único animal que...” - pensa! E, se pensa, pode adquirir
consciência de si, e, consequentemente, ser livre, e escolher não
ser catalogado como membro do mundo animal irracional.
Escolha!
Eis a manifestação mais precisa da liberdade! Estamos, a todo o
momento, fazendo escolhas, e estas, por mais variadas que sejam,
acabam por se resumirem numa simples oposição: por nós X contra
nós. Se não soubermos quem somos nós (autoconsciência), não
poderemos fazer escolhas. E, sem escolhas, sem liberdade.
“Escolher”
assusta. O Homem, diante de uma escolha, se torna vulnerável. O
processo de escolha em que vivemos nos faz passar, a todo o momento,
pela angústia
do desconhecimento do porvir. Isto faz com que o Homem, amedrontado,
fuja dessa liberdade real. É aí que entra a anti-liberdade, a
padronização, a fábrica de ídolos que salva o Homem dessa imensa
angústia decorrente das escolhas, que são a expressão da
liberdade. Com isso, o Homem foge de si mesmo, se substitui por
ídolos, e abre mão de “ser”, entrando em intenso processo de
despersonalização e perda de identidade.
A
autoconsciência permite, ao indivíduo, a capacidade de elaborar as
angústias decorrentes das escolhas, levando a uma liberdade
saudável, que, logicamente, não se traduz em fazer o que é
proibido, fazer tudo o que quer, ou não fazer o que deve, mas, sim,
buscar a justa adequação entre esses três aspectos. Tudo se
agrava, à medida que o sujeito se vê controlado por inibições,
repressões, ou condicionamentos da infância, que, mesmo esquecidos,
ainda o impulsionam inconscientemente, impelindo-o, sem que ele possa
controlar. Em vista disso, a pessoa torna-se também enfraquecida e
manipulável.
Temos,
em muitos autores, ideias como estas aqui descritas, que, parece, se
completam, se acrescentam, se enriquecem. Se formos procurar,
encontraremos, talvez centenas, milhares de outros tantos artigos,
crônicas, novelas, poemas, livros, filmes, peças, ensaios,
conversas, onde as mesmas impressões são deixadas, as mesmas
preocupações são demonstradas, os mesmos sonhos são embalados.
Então, por que a humanidade ainda não se apercebeu disso tudo, e
não conseguiu equacionar esse conflito?
Seria
por que... “o Homem é o único animal que...” é masoquista???